cosmology.com.br
Um evento dramático no céu influenciou a construção da pirâmide e a cultura desta grande civilização?
Em um caso intrigante, um astrônomo italiano
propôs que um dramático eclipse solar total desencadeou uma crise religiosa no
Egito Antigo, levando o último faraó da 4ª dinastia a abandonar a construção de
pirâmides — tradição de seus ancestrais.
Um túmulo misterioso
No deserto de Saqqara do Sul, ergue-se uma estrutura curiosa: um edifício
plano, semelhante a uma pirâmide inacabada. Conhecido como Mastaba do Faraó,
seu interior tem as mesmas câmaras encontradas nas famosas pirâmides de Gizé,
claramente inspirado nelas. Este foi o local de descanso de Shepseskaf, o
último governante da 4ª dinastia, que reinou por apenas quatro anos antes de
morrer por volta de 2498 a.C. Seu governo marcou uma virada radical na história
egípcia.
Por que Shepseskaf construiu um túmulo tão
modesto em um local tão afastado? Egiptólogos sugerem várias teorias: talvez
quisesse se aproximar de suas origens familiares, ou houvesse conflitos com os
sacerdotes. Ou, simplesmente, os recursos haviam se esgotado.
Uma explicação cósmica?
Recentemente, Giulio Magli, astrônomo italiano, propôs uma teoria celestial em
um artigo publicado no arXiv. Um eclipse solar total teria ocorrido
sobre o Egito durante o reinado de Shepseskaf — e as pirâmides estavam ligadas
ao culto solar. Talvez o faraó e seu povo tenham interpretado o eclipse como um
sinal de traição do Sol, levando-o a abandonar a tradição piramidal em favor de
outros deuses.
Na manhã de 1º de abril de 2471 a.C.,
o Sol nasceu normalmente, mas em minutos escureceu. Às 7h59, o eclipse era
total, cobrindo o coração agrícola do Egito, incluindo a cidade sagrada de
Buto. A capital, Mênfis, viu 95% do Sol desaparecer — mais que suficiente para
alarmar os astrônomos reais.
Na época, eclipses eram imprevisíveis.
Só no século XVIII, Edmond Halley desenvolveria métodos para prevê-los. Os
egípcios, embora avançados, não registravam eclipses — possivelmente por os
considerarem presságios sombrios, em contraste com o culto ao Sol.
O fim de uma era
O culto solar estava diretamente ligado às pirâmides, mas Shepseskaf,
testemunhando o "fracasso" do deus Sol, pode ter rejeitado essa
tradição. Sua mastaba simbolizaria essa ruptura.
Mistérios persistentes
As datas do reinado de Shepseskaf são incertas, e o cálculo do eclipse depende
de modelos da rotação terrestre — que muda ao longo dos milênios. Sem registros
escritos, a correlação permanece especulativa.
Mas uma coisa é certa: eclipses ainda
hoje despertam temor e fascínio. Há 5 mil anos, um evento assim pode
ter sido suficiente para abalar as crenças de um faraó — e mudar o curso da
história.