Almejando mais alto
O voo 7 marcou a estreia da variante Block 2 da Starship, que possui tanques de propelente maiores, maior capacidade de carga útil e flaps e escudo térmico aprimorados em comparação com a versão anterior. Se tudo correr conforme o planejado, o voo 9 pode ser o primeiro teste bem-sucedido dessa configuração.
A missão está programada para decolar da instalação Starbase da SpaceX, no Texas, às 19h30 (horário de Brasília) desta terça-feira, com uma janela de backup agendada para o mesmo horário na quarta-feira.
O voo 9 contará com o primeiro booster Super Heavy reutilizado, capturado por um par de "hasteadores" gigantes no final do voo 7 e reformado para esta missão. A reutilização é um dos principais diferenciais de ambos os estágios do veículo, pois reduz custos e tempo entre lançamentos. Alguns componentes foram substituídos, mas a "maior parte" do booster — incluindo 29 dos 33 motores Raptor — já terá histórico de voo.
A SpaceX conseguiu capturar o booster com sucesso em três dos últimos quatro voos de teste da Starship. Desta vez, porém, não tentará a captura — em vez disso, o Super Heavy pousará no mar, próximo à costa da Flórida, para que a SpaceX realize uma série de experimentos.
Após se separar da Starship, o booster "inverterá" seu curso em uma direção pré-determinada. Em voos anteriores, essa direção era aleatória, o que exigia reserva extra de propelente. O booster também descerá com um ângulo de ataque maior, visando aumentar o arrasto, reduzir a velocidade e queimar menos propelente. Durante a ignição de pouso, um dos três motores centrais será desativado para testar como um motor reserva poderia executar a manobra.
O voo 9 também tentará pela primeira vez implantar uma carga útil em órbita: oito simuladores de satélites Starlink, que queimarão no reentrada. Posteriormente, a Starship reacenderá um único motor no espaço — um feito já alcançado em tentativas anteriores.
O objetivo final é permitir a captura e retorno da Starship — uma capacidade essencial, já que a SpaceX aumentou seu ritmo de lançamentos de cinco para 25 por ano, com aprovação recente da FAA.
Engenheiros removeram algumas placas do escudo térmico para testar áreas vulneráveis durante a reentrada — algumas foram substituídas por materiais alternativos projetados para proteger melhor o veículo. Eles também alinharam melhor as placas para corrigir "pontos quentes" identificados durante o voo 6. O perfil de reentrada foi planejado para testar os flaps traseiros e o desempenho térmico e estrutural dos encaixes de captura instalados nas laterais do foguete.
Problemas consecutivos atrasaram o programa Starship em um momento em que a SpaceX tenta acelerar seu cronograma de lançamentos. A empresa está desenvolvendo uma versão do veículo para pouso humano (HLS) para levar astronautas da NASA à Lua na missão Artemis 3, prevista para meados de 2027. Antes disso, porém, precisará cumprir marcos importantes, incluindo uma demonstração não tripulada de pouso lunar.
Aprovação da FAA para aumentar lançamentos anuais em Starbase deve ajudar
Além do Texas, a SpaceX também está construindo instalações no Kennedy Space Center, na Flórida — onde lança seu foguete Falcon 9 — para servir como um potencial segundo local de lançamento. No entanto, a empresa precisará produzir um relatório de impacto ambiental antes que a expansão seja aprovada.
Para aproveitar seus novos privilégios, porém, a SpaceX deve evitar novos acidentes, que podem resultar em paralisações de semanas ou meses.
Área de risco ampliada
As falhas nos voos 7 e 8 da Starship atrapalharam o tráfego aéreo, já que detritos ameaçaram cair em corredores de voo. Em resposta, a FAA quase dobrou a zona de risco para aeronaves (AHA) no voo 9, expandindo-a para aproximadamente 1.600 milhas náuticas a leste do local de lançamento, agora incluindo as Bahamas e as Ilhas Turks e Caicos, "devido à confiabilidade do veículo". A agência exigiu que a SpaceX agendasse a janela de lançamento — que abre às 19h30 (horário de Brasília) — fora dos "horários de pico de tráfego aéreo".
"Os acidentes com a Starship nos voos 7 e 8 aumentaram a probabilidade de falha do veículo e, portanto, exigiram uma AHA maior", afirmou a FAA em uma avaliação ambiental, destacando o fechamento do espaço aéreo. "Essas áreas definem o espaço aéreo temporariamente fechado, que será estabelecido e publicado por meio de um NOTAM antes do lançamento/reentrada."
A FAA alertou que as precauções adicionais podem atrasar mais de 175 voos — quase todos em rotas internacionais de conexão — em uma média de 40 minutos, podendo chegar a duas horas. Operações de aviação geral também serão impactadas. A FAA informou que, durante o voo 8, 171 decolagens foram atrasadas em média 28 minutos, 28 voos foram desviados e outros 40 entraram em padrões de espera.
Mais informações sobre o fechamento do espaço aéreo podem ser encontradas no plano operacional atual da FAA.
Causas diferentes para as falhas
Segundo a SpaceX, os acidentes nos voos 7 e 8 ocorreram em momentos similares da missão, mas tiveram causas distintas.
Ambos os testes terminaram prematuramente quando a Starship perdeu controle e se desintegrou na alta atmosfera. No relatório do voo 8, a SpaceX afirmou que o foguete provavelmente acionou seu Sistema Autônomo de Segurança de Voo (AFSS) após a parada dos motores Raptor 2 e a perda de comunicação. A empresa rastreou a falha dos motores a um possível problema de hardware em um dos motores centrais, "resultando em mistura e ignição acidental de propelente".
Já no voo 7, o acidente foi causado por "vibrações mais fortes do que o esperado durante o voo, que aumentaram a tensão e levaram à falha do hardware no sistema de propulsão".
De acordo com a SpaceX, "as mitigações implementadas após o sétimo voo de teste para tratar a resposta harmônica e a inflamabilidade da seção superior da nave funcionaram conforme projetado antes da falha no voo 8".
Modificações para o voo 9
Após testar os motores Raptor mais de 100 vezes em sua instalação em McGregor, Texas, a empresa fez ajustes para o voo 9. Os motores da Starship receberão um novo sistema de purga de nitrogênio, melhorias no dreno de propelente e "carga adicional em juntas críticas". Missões futuras contarão com os motores Raptor 3, projetados para evitar falhas semelhantes.
O foguete Starship da SpaceX está pronto para retornar ao voo nesta terça-feira
O colossal foguete Starship e seu booster Super Heavy estão prontos para retornar à ação nesta terça-feira à noite, após a SpaceX concluir a investigação sobre o oitavo voo de teste do veículo de 122 metros de altura, realizado em março. Tanto essa missão quanto o voo 7, em janeiro, terminaram em explosões.
Na sexta-feira, a FAA (Administração Federal de Aviação) emitiu uma autorização para o retorno do veículo ao voo, abrindo caminho para o Flight 9 — o terceiro na configuração atualizada Block 2 e o primeiro a utilizar um booster Super Heavy reutilizado. Diferentemente de voos anteriores, a SpaceX não tentará capturar e recuperar o booster na plataforma de lançamento, mas buscará outros objetivos inéditos.
"Testes de desenvolvimento são, por definição, imprevisíveis", afirmou a SpaceX em uma atualização pré-lançamento. "Mas, ao colocar o hardware em ambiente de voo com a maior frequência possível, podemos aprender rapidamente e implementar mudanças no design, visando tornar a Starship um veículo totalmente e rapidamente reutilizável."
Após o lançamento, o CEO da SpaceX, Elon Musk, deve realizar uma transmissão ao vivo na plataforma X intitulada "O Caminho para Tornar a Vida Multiplanetária", aludindo a seus planos de levar humanos a Marte.